“A Saudade é o revés do parto, a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu” – Chico Buarque
Não existe “dor” maior no mundo do que a perda de um filho. Nós, pais, temos por eles um amor incondicional, inexplicável. Temos medo de morrer e deixá-los sozinhos, mas sabemos que essa é a lei natural da vida e, ainda que seja dura, a aceitamos. Mas a morte precoce de um filho vai contra tudo, é inaceitável. E eu, como mãe, não posso nem pensar nisto.
Ao longo de todo o meu trabalho como sensitiva, vejo pessoas doentes, almas perdidas, muitas coisas tristes. São depoimentos tristes, pessoas extremamente necessitadas que me fazem parar para pensar e valorizar a vida. Mas nada me abala tanto como ver a dor de uma mãe ou de um pai que perdeu o filho.
Há muitos anos faço psicofonias* (contato com desencarnados). Filhos, netos, maridos e esposas me procuram com a esperança de amenizarem a dor da perda através de um contato. No entanto, quando uma mãe me procura, é diferente. Sinto em mim a dor dessa mãe ou pai, e por mais que tente evoluir, e ainda que não acredite na morte, sofro com ela. Já foram muitos casos desse tipo ao longo do tempo, e um dos que ficou marcado foi a história do Bruninho. Vou aproveitar esse espaço para dividi-la com vocês.
Fabíola Galvão é mãe de dois filhos. Em 2003, ela se deparou com a maior dor do mundo: um acidente no ônibus escolar tirou a vida de Bruno, seu primogênito. Desesperada, passou a buscar todas as formas de consolo para aliviar a dor e a saudade. E foi assim, tentando se distrair, que ela me encontrou enquanto assistia uma das minhas apresentações na TV. Mesmo com pouca esperança, ela me escreveu solicitando a psicofonia de seu filho.
Recebi a carta dela em casa, com o nome e as datas de nascimento e falecimento de Bruno. Pedi o auxilio de mentores e consegui o contato com ele. Escrevi exatamente tudo que ele me falava. Ainda que algumas coisas não fizessem sentido para mim, sabia que faria para ela. Envelopei o papel e enviei para ela, como costumava fazer próximo ao Natal.
Na época, já recebia muitos pedidos de psicofonia, mas ainda conseguia responder a todos. Nem sempre com boas notícias, nem sempre com algum contato, mas não deixava absolutamente ninguém sem resposta.
Algum tempo depois, vim saber que a carta chegou exatamente na véspera de Natal. Fabíola abriu a caixa de correio e encontrou lá notícias de Bruno, três meses depois de ter me solicitado (para ver o depoimento de Fabíola clique aqui). Lá ela recebia um verdadeiro presente de Deus! Bruno dizia o seguinte na cartinha:
Mãe, fique feliz, pois estou bem! Visito a senhora sempre que possível e estou cheio de luz e energia; até flutuo.
Faça a viagem que eu queria. (Fabíola estava pagando para o filho ir aos Estados Unidos com os amigos da escola).
Desfaça de tudo, mas guarde as baquetas e continue escrevendo o livro que você começou e parou na 8ª página. (Fabíola estava escrevendo um diário, colocando sua dor para fora).
Beijos e fique em paz!
Eu não sabia que ele ia viajar, muito menos o que era uma baqueta. Mas o mais impressionante era que ninguém sabia do livro, nem as pessoas mais próximas. A psicografia ou psicofonia honesta é assim, através de detalhes, ela sempre mostra e comprova que realmente existe um contato entre o médium e o desencarnado.
Não tenho dúvidas que esse foi o melhor presente que Fabíola poderia ter recebido. Mas eu também recebi um presente: depois de ter lido a mensagem de incentivo de Bruno, pedindo para que ela desse continuidade a própria vida, Fabíola voltou a escrever e me fez uma dedicatória. O resultado foi lindo! Além de ter publicado o livro “As Baquetas”, ela fundou o GAPS (Grupo de Apoio aos Pais na Saudade).
São atitudes como essa que fazem valer a pena o meu trabalho e toda a dor que sinto ao ver pais que perderam seus filhos. Peço a Deus para não passar por esta emoção. Parabéns a Fabíola e a todas as mães que conseguiram superar essa dor. Fica aqui a minha admiração por vocês.
E quanto a mim, continuo fazendo psicofonia em todas as minhas palestras, a próxima será no dia 12/06/2010, em São Paulo.
Beijos e até a próxima,
Márcia Fernandes.
*Psicofonia: Nada mais é do que ouvir e falar com os desencarnados. Nada tem de santificado, nos comunicamos com eles por meio de ondas eletromagnéticas. É exatamente como uma ligação com áudio e vídeo entre pessoas de diferentes continentes. É normal, é físico. A diferença entre a psicofonia e a psicografia é a forma de comunicação, um a comunicação é por meio do som, outra por escrito.