Dentro dos cultos da kimbanda, o Exu do Lodo é um dos primordiais, sendo ele responsável pelas energias estagnadas que se fixam em lugares lamacentos e pantanosos. É uma espécie de salva-vidas, recebe suas feituras pelo lado das almas, afinal este é um Exu que responde pelo povo da praia, ou seja, é uma energia diferente das almas.
Normalmente, apresenta-se como um homem jovem que está sentado à beira de lagos e pântanos, usa roupa cinza e marrom e raramente preto.
Quando esse Exu se manifesta, ele está agachado como se tivesse dificuldade para se levantar, mas na realidade se locomove com rapidez.
Também há uma característica bastante marcante: quando se marca um trabalho para ele, começa uma garoa (chuva). É a resposta que ele está atento e presente.
Existe uma linda lenda do Exu do Lodo.
Exu Rei e sua esposa resolveram andar pelo mundo para ver como estava o trabalho de seus súditos e seguiram por caminhos diferentes.
A Pomba-Gira Rainha seguiu por um caminho e se deparou com um pântano sujo, podre que lhe impedia de seguir em frente.
De repente, surgiu a sua frente um homem que parecia um ermitão.
A imagem o assustou de princípio, então, rapidamente retirou sua capa e colocou-a sobre o lodo para que ela passasse. Ela ficou lisonjeada e ao olhar nos olhos dele, percebeu uma tristeza.
A rainha seguiu seu caminho e o Exu do Lodo ficou fascinado com sua beleza e começou a sentir o amor em seu peito. Ao chegar ao palácio, ela comentou com o Rei o ocorrido.
Exu-Rei impressionou-se com as palavras da mulher, um guardador do pântano e resolveu convidá-lo para um jantar no palácio pedindo para que o general fosse buscá-lo.
Chegando ao palácio, o Exu do Lodo surpreendeu-se ao saber que a mulher do soberano era sua amada, a dor invadiu-lhe a alma e resolveu que ao sair dali, iria esquecê-la.
O Rei condecorou o Exu do Lodo para sentar a sua direita e é o lugar que ele ocupa. A Rainha lhe presenteou com um lenço perfumado pedindo que guardasse nele suas lágrimas e ao retornar a sua casa, jogasse-o no pântano.
Assim ele o fez! Ao atirar o lenço no pântano, suas lágrimas se transformaram em pérolas e, no dia seguinte, em flores que liberavam uma fragrância do amor.
Com o passar do tempo, a história se repetiu: uma linda mulher surgiu no caminho e se deparou com o pântano; Exu do Lodo saiu de seu esconderijo e ofereceu-lhe a capa. Ao olhar nos olhos da mulher, novamente, sentiu o amor e colheu algumas flores oferecendo-as a ela.
Emocionada, a mulher sorriu e olhou-o atentamente com carinho. Era Maria Molambo que a partir daí nunca mais o deixou sozinho.
Linda história, não é mesmo?
Beijos,
Márcia Fernandes